quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Flutu-ar

“A melhor discussão a se ganhar é aquela que você tem certeza de estar certo”. Estar certo dá uma segurança e uma força, para seguir em frente, pisando firme e forte. Mas independente  de se pisar na areia fofa ou no cimento, não seria melhor flutuar? E se não houvesse chão para começar?
Não seria melhor ser seguro e firme, na fé? Pela verdade e pela confiança, flutuar pelos caminhos da vida que muitas das vezes nos parecem mais becos que alamedas? O caminho está ali, e tem que ser seguido; não sei se hoje, amanhã ou , no meu caso, na próxima vida. Mas ele está ali, cheio de percalços para serem percorridos e  superados.
Então por que é que nós insistimos em construir prédios e postes, no meio do caminho? Já temos pedras demais para caminhar sobre e além. Será que é preciso tanto dar este toque humano, construir a dificuldade? Por que não, construir postes à beira da estrada, para iluminar o caminho? E apartamentos no fim da caminhada, para descansarmos depois de todo o esforço?
Acontece que é o que acontece no caminho que se leva pelo resto do caminho. Aquela topada que você deu, primeiro traz dor, depois sangramento e ali a ferida fica mais viva do que nunca. A casquinha se forma,e  fica ali, sarando toda aquela dor. Você pode escolher arrancá-la de novo e iniciar todo o processo, ou deixar curar, sozinho. Deixar passar. Deixar ser.
Aquela cicatriz vai ficar sempre em você, te acompanhando para cada lugar que for. A diferença é que agora ela te lembra de tudo que você superou e de toda a força que você tem. Agora, ela é você.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Over-capacity



Houve, Ouve, Over
Over- welmed
Over- dosed
Over- egg
Over- elaborate
Over- particular
Over- achieve
Over- act
Overall
Overeacting

domingo, 24 de abril de 2011

Suficiente



adj. Qualidade de suficiente.
Tanto quanto necessário; bastante: quantia suficiente.
Auto-suficiente, presunçoso, vaidoso: atitude suficiente.
Filosofia. Razão suficiente, causa que satisfaz plenamente.







Mas pra você, o que é suficiente?
É quando você está em uma situação na qual não agüenta mais e diz (sin.) “já basta”? Ou quando você encontra aquele “Q” que faz você sentir que tem o suficiente para ser feliz a vida inteira?
Mas afinal, dentre tantas definições, dizer que algo é suficiente, realmente o torna causa que satisfaz plenamente? O que basta para nós?
Temos essa mania estranha, de idealizar o mundo. Movidos pelo desejo de ser, alcançar e até ter, sempre criamos expectativas- potenciais frustrações e por vezes, sucessos. Lidar com a não suficiência do acontecimento, como aquela vez que você quase conseguiu aquele emprego, ou quase se apaixonou completamente, se não fosse(lacuna). São essas mil e umas desculpas, da tal lacuna a preencher que vem tentar justificar, aquilo que na vida real, não rolou como na nossa cabeça. Aí é quando exacerbamos o adjetivo SUFICIENTE, no literal da palavra; É como se ser suficiente nem mesmo coubesse dentro da palavra suficiente. Não há felicidade no mundo suficiente, ou dinheiro, ou amor. Parece que sempre falta alguma coisa para ser pleno, apesar de já termos o suficiente. Comida, roupas, caminhos. Nós, de metidos que somos, nos apropriamos deste termo, e nos sentimos no direito de cobrar, de transbordar esse significado. É como uma represa que não agüenta o volume de água. São tantos “se” e “mas”que a língua portuguesa se rompe, extrapola, e fica perdida entre significados e desejos e quimeras.
E ao invés de culparmos o dicionário, pertinente seria redefinirmos nossas noções de mundo para que a nossa expectativa faça juz a palavra. And not the other way around.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Re-lacionar

Você passa a vida pensando como teria sido se... e o problema é quando você se deixa dominar pelo que poderia ter sido e esquece de ser.  E aí a vida passa por você. Quantas noites, com meus 3 anos de idade, passava olhando para o teto e me perguntando “E se”. Quando via as dificuldades, perguntava se seria mais fácil, se... E a curiosidade, se tornou medo lá pelos 14. Não sabia se eu podia saber do se... E pior, se podia saber do foi. E fiquei, com este medo dentro, corroendo até meus 23.
Em meio à planos futuros, à beira da construção da minha vida- percebi que era impossível seguir em frente, sem saber quem fui pra trás. E fui tomando coragem para confrontar a mim mesma, e descobrir do que eu tinha tanto medo.
E quando tive forças pra questionar, investigar, mal percebi que o que estava fazendo era sanar uma dor tão profunda, que nem a mais tecnológica ressonância poderia detectar.
Buscar, conhecer, aceitar. Reformular. Re-lacionar o passado e o presente, pra possibilitar o futuro a se imaginar. Não importa o quê foi, como foi. Simplesmente ainda é. Eu sou.
E começa a ver, que as coisas que foram presentes no passado, tiveram sua razão de ser. São peças insubstituíveis na engenhoca que somos nós. Depois de uma seqüência inédita de experiências,  você olha e pensa naquele erro. Cai em si e percebe que graças àquele erro, você é quem é hoje. Que pessoas que conhecemos que parecem mudar totalmente nossos valores, na verdade só vêm nos mostrar e reafirmar aquilo que somos de verdade.
As noites olhando pro teto, enquanto as lágrimas molhavam o travesseiro, os minutos, que somam anos,  de vazio completo. Os passeios de ônibus de diálogos internos infinitos. Os amigos que nunca souberam. As pessoas que nunca compreenderam. Vinte e três anos, pra entender que o vazio na verdade é o que me completa. Que me mostra, a cada passo, a sua força e poder constituinte naquela que sou, presente nas minhas decisões, escolhas, gostos.
É, aquela dor excruciante, que me impedia de comer, de pensar, de respirar, é a mesma que me possibilita recuperar o fôlego, sonhar e batalhar pelos 50 e poucos anos que irão chegar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Entre forças e esquecimentos


Eu quero, almejo, eu vejo
Eu não consigo alcançar,
brevemente tocar
É apenas um simples lampejo.

A vida que corre, que há
não encontra lugar
para alocar
tantos desejos

Ser e poder
conseguir alcançar
parece que está condicionado
a sempre parar

Então essa vida
que chega a roçar,
a ranger, amordaçar
É a mesma
que dá espaço e lugar
para aquele perfume no ar
bater a sua porta
e tudo mudar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Vende-se


Deixo claro que o conteúdo deste post reflete apenas a minha opinião e interpretação dos fatos, e não os fatos como eles hão de ser. Uso como referência as seguintes matérias: http://twixar.com/kmYq, http://twixar.com/bgDmGA. A primeira coisa que tenho que observar e compartilhar é a fusão do público/privado que ocorre cada vez mais. Não estou falando de empresas, desestatização, essas coisas. Falo de pessoas e da banalização do conceito de bonito, admirável. Pessoalmente, compartilhar a intimidade num livro, em um blog, ou no twitter, não te torna melhor que ninguém. Nada contra quem gosta de fazer e acontecer, mas expor a perversão desta forma escancarada, no formato 140 caracteres, extrapola até os limites sub-humanos. É a coisificação das relações, das trocas, que por fim se tornam impossíveis. Surfistinha, em sua entrevista, expressa que começou a se prostituir para “unir o útil ao agradável”. Pois é, não só como mulher, mas como ser, errôneamente presumido pensante, ela se torna um anti-exemplo de como não ser humano. Reduzir os desejos, as vontades, as carências e as trocas à uma prática disfuncional: a coisa sexo, é sub-natural. Não é sexo. Acho que nem pode chamar-se assim. É a coisa que se reforça incoesa coisa. Não existe outro, mas sim um objeto desejado: Outra coisa. E o ser humano vai sendo destrinchado em várias partes, coisas, almejando ser todo.  Unidades.  Para suprir exclusivamente a sua necessidade. Mãos, olhos, joelhos à vulso.
          É aí que algo me admira, me surpreende de maneira sutil e inesperada. Enquanto as mulheres se esforçam cada vez mais para se aprimorarem – culto ao corpo, consumo estético e desumano – afim de se garantirem “filés” do mercado, ainda os melhores para serem consumidos vem a notícia da  separação de Latino. Veja bem, um artista sem sobrenome, sem respeito e sem-vergonha. Este cara vira modelo de coisa a se querer. É aquela coisa. Eis que a ironia que é a vida, e é aí que a gente confirma que nem tudo é coisa, nos mostra aqui uma mulher bem-sucedida no que faz, admirada por muitos - só na matéria em questão, já haviam 427 comentários. Ela, que olhada de longe, parece ser tudo que alguém pode ser, é dispensada, via twitter, por um cara que gosta de falar de mulheres ingratas, bundalelês no apê, e ainda iventa ditados do tipo “quem planta sacanagem, colhe  solidão”. Essa coisa, em 140 caracteres, informa que quando dois corações querem ser livres, é preciso coragem, chega de cobranças. E a reportagem acrescenta: um amigo do casal não entende como eles se separaram, afinal ela estava de acordo com as traições do marido. É aí que fica tudo de cabeça pra baixo. A falta de respeito, a falta de caráter são esperados, óbvios elementos na teoria da vida. O que é surpreendente é a mulher ter se cansado de ser humilhada, ter se dado ao valor e ter saído de um relacionamento, sem querer dinheiro, nem nada. Saindo com o que é dela, porque ela foi capaz de construir. No MEU mundo, isso deveria ser apreciado. Eu, da geração saudável- sim é saudável mesmo- acredito que a palavra chave do mundo é equilíbrio. Acredito nas mulheres, de fibra, de FRIBA, porque “é preciso ter raça, é preciso ter força é preciso ter sonho sempre” para ser mulher de acordar, encarar o dia através da janela e dizer: Bom dia, dia.  Levanta, lava, cozinha, cuida dos filhos, da casa, de si, da empresa, da família, dos amigos. “Faz-tudo” feminina, que leva delicadeza com firmeza pra mesa de reunião, café, almoço e jantar. Organiza, ensina, é tutora de viver. E transforma essa São silvestre em uma caminhada de 100 metros. Sobre-vive. Nunca aquém. Talvez devêssemos ser menos surf , e desapegarmos desta mania pegajosa que é ser coisa.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Lâmpada Mágica

Queria um beagle,
Tenho uma pincher.

Queria carro,
Tenho ônibus, trem, metro.

Queria uma casa só,
Tenho tantas que perco a conta.

Queria Deus,
Tenho Gurus.

Queria uma amiga,
Tenho irmãs.

Queria uma cidade,
Tenho Juiz de Fora, Petrópolis e João Pessoa.

Queria um pai,
Tenho uma mãe que vale por dois.

Queria parar,
Tenho dinamismo que me leva pelo mundo.

Queria morrer,
Tenho vida que não cabe dentro das minhas veias.

Queria estabilidade,
Tenho descobertas e surpresas mais do que agradáveis.

Queria só Zona Sul,
Tenho Madureira, Barra e Niterói.

Queria trabalho,
Tenho um estágio que é uma mãe.

Queria estudar,
Tenho mentores, mestrados muito suados.

Queria facilidade,
Tenho luta, força e determinação.

Queria ter me conhecido melhor...
Para saber que o que eu realmente queria,
Eu já tinha.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Com os olhos dos novos tempos

Era o último dia do ano. Mas a praia não estava amontoada de pessoas. Apenas o suficiente, para perceber que era época de festa. Famílias, amigos, casais, todos se permitindo parar, para finalmente curtir a companhia uns dos outros. Num clima descontraído, os garçons do quiosque correm para cima e para baixo - é tempo de calmaria para os turistas, mas para os locais significa semi-escravidão. É a oportunidade de se garantir financeiramente pelos próximos meses. Pessoas de todas as raças e todas as cores. Os de pele tatuada, alguns de pele lisa, outros de pele delicada. Pele. Um órgão como os pulmões. No entanto, você não vê ninguém falando, “seu pulmão murcho, saída daí!” Infelizmente para o desprazer daqueles que estavam na praia, algo bem desagradável aconteceu. Seguido de algo bem, mas bem agradável. Um “coroa”, com aquela típica barriga de chop e seus cabelos grisalhos e jóias, ofende deliberadamente uma criança, que estava ajudando na barraca. Na tentativa de proteger o menor, um garçom- que estava ocupado atendendo outra mesa- pára, para dizer ao senhor: “Ele é apenas uma criança, pega leve”. Pronto, foi a brecha para o tal malandrão “importado” gritar, para toda a praia ouvir : “Seu macaco, sou eu quem paga o seu salário”. Seguiu-se um profundo silêncio. Mas diferente daquele olhar de “não estou percebendo o assalto do meu lado", uma menina – brava, devo dizer – grita para o senhor ir embora. E continua seu discurso contra o racismo. Se ele fosse tão bom, que tivesse escolhido um lugar menos miscigenado para passar o Reveillon. Eu me contagiei, pois há tempos não vejo a população agir. Também me levantei e disse para que ele saísse, que pessoas com essa mentalidade não seriam toleradas ali. Seguido de mim, inúmeras pessoas levantaram-se e começaram, em coro, à mandá-lo embora.  Os garçons tiveram que escoltá-lo e ainda sim, uma mulher negra teve a oportunidade de esbofeteá-lo. Ele nem teve a chance de responder. Era o mundo contra um. Conforme se retirava, a multidão aplaudia. E muitos encontravam-se com os olhos cheios d’água. Foi a energia da mudança, o orgulho pelas nossas origens, que fez de todos ali presentes, um só ser. E foi aí que eu tive certeza de que UM ANO NOVO ali começava.