sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Com os olhos dos novos tempos

Era o último dia do ano. Mas a praia não estava amontoada de pessoas. Apenas o suficiente, para perceber que era época de festa. Famílias, amigos, casais, todos se permitindo parar, para finalmente curtir a companhia uns dos outros. Num clima descontraído, os garçons do quiosque correm para cima e para baixo - é tempo de calmaria para os turistas, mas para os locais significa semi-escravidão. É a oportunidade de se garantir financeiramente pelos próximos meses. Pessoas de todas as raças e todas as cores. Os de pele tatuada, alguns de pele lisa, outros de pele delicada. Pele. Um órgão como os pulmões. No entanto, você não vê ninguém falando, “seu pulmão murcho, saída daí!” Infelizmente para o desprazer daqueles que estavam na praia, algo bem desagradável aconteceu. Seguido de algo bem, mas bem agradável. Um “coroa”, com aquela típica barriga de chop e seus cabelos grisalhos e jóias, ofende deliberadamente uma criança, que estava ajudando na barraca. Na tentativa de proteger o menor, um garçom- que estava ocupado atendendo outra mesa- pára, para dizer ao senhor: “Ele é apenas uma criança, pega leve”. Pronto, foi a brecha para o tal malandrão “importado” gritar, para toda a praia ouvir : “Seu macaco, sou eu quem paga o seu salário”. Seguiu-se um profundo silêncio. Mas diferente daquele olhar de “não estou percebendo o assalto do meu lado", uma menina – brava, devo dizer – grita para o senhor ir embora. E continua seu discurso contra o racismo. Se ele fosse tão bom, que tivesse escolhido um lugar menos miscigenado para passar o Reveillon. Eu me contagiei, pois há tempos não vejo a população agir. Também me levantei e disse para que ele saísse, que pessoas com essa mentalidade não seriam toleradas ali. Seguido de mim, inúmeras pessoas levantaram-se e começaram, em coro, à mandá-lo embora.  Os garçons tiveram que escoltá-lo e ainda sim, uma mulher negra teve a oportunidade de esbofeteá-lo. Ele nem teve a chance de responder. Era o mundo contra um. Conforme se retirava, a multidão aplaudia. E muitos encontravam-se com os olhos cheios d’água. Foi a energia da mudança, o orgulho pelas nossas origens, que fez de todos ali presentes, um só ser. E foi aí que eu tive certeza de que UM ANO NOVO ali começava.

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