sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Vende-se


Deixo claro que o conteúdo deste post reflete apenas a minha opinião e interpretação dos fatos, e não os fatos como eles hão de ser. Uso como referência as seguintes matérias: http://twixar.com/kmYq, http://twixar.com/bgDmGA. A primeira coisa que tenho que observar e compartilhar é a fusão do público/privado que ocorre cada vez mais. Não estou falando de empresas, desestatização, essas coisas. Falo de pessoas e da banalização do conceito de bonito, admirável. Pessoalmente, compartilhar a intimidade num livro, em um blog, ou no twitter, não te torna melhor que ninguém. Nada contra quem gosta de fazer e acontecer, mas expor a perversão desta forma escancarada, no formato 140 caracteres, extrapola até os limites sub-humanos. É a coisificação das relações, das trocas, que por fim se tornam impossíveis. Surfistinha, em sua entrevista, expressa que começou a se prostituir para “unir o útil ao agradável”. Pois é, não só como mulher, mas como ser, errôneamente presumido pensante, ela se torna um anti-exemplo de como não ser humano. Reduzir os desejos, as vontades, as carências e as trocas à uma prática disfuncional: a coisa sexo, é sub-natural. Não é sexo. Acho que nem pode chamar-se assim. É a coisa que se reforça incoesa coisa. Não existe outro, mas sim um objeto desejado: Outra coisa. E o ser humano vai sendo destrinchado em várias partes, coisas, almejando ser todo.  Unidades.  Para suprir exclusivamente a sua necessidade. Mãos, olhos, joelhos à vulso.
          É aí que algo me admira, me surpreende de maneira sutil e inesperada. Enquanto as mulheres se esforçam cada vez mais para se aprimorarem – culto ao corpo, consumo estético e desumano – afim de se garantirem “filés” do mercado, ainda os melhores para serem consumidos vem a notícia da  separação de Latino. Veja bem, um artista sem sobrenome, sem respeito e sem-vergonha. Este cara vira modelo de coisa a se querer. É aquela coisa. Eis que a ironia que é a vida, e é aí que a gente confirma que nem tudo é coisa, nos mostra aqui uma mulher bem-sucedida no que faz, admirada por muitos - só na matéria em questão, já haviam 427 comentários. Ela, que olhada de longe, parece ser tudo que alguém pode ser, é dispensada, via twitter, por um cara que gosta de falar de mulheres ingratas, bundalelês no apê, e ainda iventa ditados do tipo “quem planta sacanagem, colhe  solidão”. Essa coisa, em 140 caracteres, informa que quando dois corações querem ser livres, é preciso coragem, chega de cobranças. E a reportagem acrescenta: um amigo do casal não entende como eles se separaram, afinal ela estava de acordo com as traições do marido. É aí que fica tudo de cabeça pra baixo. A falta de respeito, a falta de caráter são esperados, óbvios elementos na teoria da vida. O que é surpreendente é a mulher ter se cansado de ser humilhada, ter se dado ao valor e ter saído de um relacionamento, sem querer dinheiro, nem nada. Saindo com o que é dela, porque ela foi capaz de construir. No MEU mundo, isso deveria ser apreciado. Eu, da geração saudável- sim é saudável mesmo- acredito que a palavra chave do mundo é equilíbrio. Acredito nas mulheres, de fibra, de FRIBA, porque “é preciso ter raça, é preciso ter força é preciso ter sonho sempre” para ser mulher de acordar, encarar o dia através da janela e dizer: Bom dia, dia.  Levanta, lava, cozinha, cuida dos filhos, da casa, de si, da empresa, da família, dos amigos. “Faz-tudo” feminina, que leva delicadeza com firmeza pra mesa de reunião, café, almoço e jantar. Organiza, ensina, é tutora de viver. E transforma essa São silvestre em uma caminhada de 100 metros. Sobre-vive. Nunca aquém. Talvez devêssemos ser menos surf , e desapegarmos desta mania pegajosa que é ser coisa.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Lâmpada Mágica

Queria um beagle,
Tenho uma pincher.

Queria carro,
Tenho ônibus, trem, metro.

Queria uma casa só,
Tenho tantas que perco a conta.

Queria Deus,
Tenho Gurus.

Queria uma amiga,
Tenho irmãs.

Queria uma cidade,
Tenho Juiz de Fora, Petrópolis e João Pessoa.

Queria um pai,
Tenho uma mãe que vale por dois.

Queria parar,
Tenho dinamismo que me leva pelo mundo.

Queria morrer,
Tenho vida que não cabe dentro das minhas veias.

Queria estabilidade,
Tenho descobertas e surpresas mais do que agradáveis.

Queria só Zona Sul,
Tenho Madureira, Barra e Niterói.

Queria trabalho,
Tenho um estágio que é uma mãe.

Queria estudar,
Tenho mentores, mestrados muito suados.

Queria facilidade,
Tenho luta, força e determinação.

Queria ter me conhecido melhor...
Para saber que o que eu realmente queria,
Eu já tinha.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Com os olhos dos novos tempos

Era o último dia do ano. Mas a praia não estava amontoada de pessoas. Apenas o suficiente, para perceber que era época de festa. Famílias, amigos, casais, todos se permitindo parar, para finalmente curtir a companhia uns dos outros. Num clima descontraído, os garçons do quiosque correm para cima e para baixo - é tempo de calmaria para os turistas, mas para os locais significa semi-escravidão. É a oportunidade de se garantir financeiramente pelos próximos meses. Pessoas de todas as raças e todas as cores. Os de pele tatuada, alguns de pele lisa, outros de pele delicada. Pele. Um órgão como os pulmões. No entanto, você não vê ninguém falando, “seu pulmão murcho, saída daí!” Infelizmente para o desprazer daqueles que estavam na praia, algo bem desagradável aconteceu. Seguido de algo bem, mas bem agradável. Um “coroa”, com aquela típica barriga de chop e seus cabelos grisalhos e jóias, ofende deliberadamente uma criança, que estava ajudando na barraca. Na tentativa de proteger o menor, um garçom- que estava ocupado atendendo outra mesa- pára, para dizer ao senhor: “Ele é apenas uma criança, pega leve”. Pronto, foi a brecha para o tal malandrão “importado” gritar, para toda a praia ouvir : “Seu macaco, sou eu quem paga o seu salário”. Seguiu-se um profundo silêncio. Mas diferente daquele olhar de “não estou percebendo o assalto do meu lado", uma menina – brava, devo dizer – grita para o senhor ir embora. E continua seu discurso contra o racismo. Se ele fosse tão bom, que tivesse escolhido um lugar menos miscigenado para passar o Reveillon. Eu me contagiei, pois há tempos não vejo a população agir. Também me levantei e disse para que ele saísse, que pessoas com essa mentalidade não seriam toleradas ali. Seguido de mim, inúmeras pessoas levantaram-se e começaram, em coro, à mandá-lo embora.  Os garçons tiveram que escoltá-lo e ainda sim, uma mulher negra teve a oportunidade de esbofeteá-lo. Ele nem teve a chance de responder. Era o mundo contra um. Conforme se retirava, a multidão aplaudia. E muitos encontravam-se com os olhos cheios d’água. Foi a energia da mudança, o orgulho pelas nossas origens, que fez de todos ali presentes, um só ser. E foi aí que eu tive certeza de que UM ANO NOVO ali começava.