segunda-feira, 28 de março de 2011

Re-lacionar

Você passa a vida pensando como teria sido se... e o problema é quando você se deixa dominar pelo que poderia ter sido e esquece de ser.  E aí a vida passa por você. Quantas noites, com meus 3 anos de idade, passava olhando para o teto e me perguntando “E se”. Quando via as dificuldades, perguntava se seria mais fácil, se... E a curiosidade, se tornou medo lá pelos 14. Não sabia se eu podia saber do se... E pior, se podia saber do foi. E fiquei, com este medo dentro, corroendo até meus 23.
Em meio à planos futuros, à beira da construção da minha vida- percebi que era impossível seguir em frente, sem saber quem fui pra trás. E fui tomando coragem para confrontar a mim mesma, e descobrir do que eu tinha tanto medo.
E quando tive forças pra questionar, investigar, mal percebi que o que estava fazendo era sanar uma dor tão profunda, que nem a mais tecnológica ressonância poderia detectar.
Buscar, conhecer, aceitar. Reformular. Re-lacionar o passado e o presente, pra possibilitar o futuro a se imaginar. Não importa o quê foi, como foi. Simplesmente ainda é. Eu sou.
E começa a ver, que as coisas que foram presentes no passado, tiveram sua razão de ser. São peças insubstituíveis na engenhoca que somos nós. Depois de uma seqüência inédita de experiências,  você olha e pensa naquele erro. Cai em si e percebe que graças àquele erro, você é quem é hoje. Que pessoas que conhecemos que parecem mudar totalmente nossos valores, na verdade só vêm nos mostrar e reafirmar aquilo que somos de verdade.
As noites olhando pro teto, enquanto as lágrimas molhavam o travesseiro, os minutos, que somam anos,  de vazio completo. Os passeios de ônibus de diálogos internos infinitos. Os amigos que nunca souberam. As pessoas que nunca compreenderam. Vinte e três anos, pra entender que o vazio na verdade é o que me completa. Que me mostra, a cada passo, a sua força e poder constituinte naquela que sou, presente nas minhas decisões, escolhas, gostos.
É, aquela dor excruciante, que me impedia de comer, de pensar, de respirar, é a mesma que me possibilita recuperar o fôlego, sonhar e batalhar pelos 50 e poucos anos que irão chegar.

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